domingo, 31 de agosto de 2008

PÓS-MODERNISMO OU PÓS-CONSUMISMO?

A humanidade, desde que o pensamento tomou “forma, é dotada de mitos, fantasias e crenças. Passamos por vários séculos de escuridão e desconhecimento, nos quais a Igreja era a grande formadora de opinião no mundo ocidental, particularmente.

No século XVI, início da era moderna, a Reforma Protestante trouxe questionamentos e embates no que tangia ao roteiro de vida das pessoas. As incoerências e as deduções começaram por desabonar velhas idéias sobre nossa origem e sobre como deveríamos viver se quiséssemos o amor e a compaixão divina.

O cenário começou a mudar e os bastidores a se agitar por conta da “mudança de planos”. A sociedade, pouco a pouco, deixou de ser estamental e filósofos como Voltaire, Russeau, Descartes e Diderot já embalavam suas idéias e pensamentos. O homem não era mais visto como um instrumento da vontade de Deus, com destino traçado, e sim como um ser social responsável por suas ações e abandonado à própria sorte.

Com a Revolução Industrial, no século XVIII, outras preocupações surgiram. As cidades cresciam, a terra era tomada pelo estado e os “pobre-coitados” que se virassem para se manterem na dita civilização moderna. Tirar leite pela manhã das vacas e colher o fruto de cultivos já não faziam parte do cotidiano. Tornamo-nos modernos e o que manda são o dinheiro e as posses.

As divagações bucólicas, as Marílias e as Eurídices desapareceram. O mundo desmistificado, sem tempo para fantasias ao homem comum, ao trabalhador e ao pai de família. “Time is money e meu filho tem fome”, o novo e moderníssimo lema.

Os grandes filósofos dos séculos XIX e XX fomentaram o que já desconfiávamos, mas não queríamos acreditar: “Deus está morto!” Muitos, até hoje, ainda têm o bom senso de crer que Ele está no meio de nós; outros tornaram-se apenas um pequenino e insignificante aglomerado de células ácidas que se multiplicam sem pedir licença. Foi então que voltamos alguns séculos e, como Wherter, de Goethe, nos encontramos: “Não estamos bem em toda parte e estamos bem em parte alguma”.

O “tic-tac” do relógio tornou-se o grande ditador de nossas atividades. A vida... Por que bela se vazia? Por que vazia se bela? O mundo sem fantasia dentro de um buraco negro de pensamentos tétricos: voltaremos ao pó, vermes se alimentarão de nossas frias e rijas carnes e, ao menos, de adubo serviremos.

Diante desta hipótese póstuma, a arte tornou-se o reduto das fugas e dos devaneios. A tristeza e a frustração foram o estopim para uma produção artística considerável. Alguns se entregaram aos sonhos e às ilusões; outros, às suas dores.

Eis que surge mais um questionamento: o que seria da arte sem as falhas, sem a tristeza e sem o sentimento do “não ser”? Teríamos apenas a reprodução objetiva da realidade, do que teríamos como belo, da visão parnasiana? Que sentido teria O Grito, de Edward Munch, por exemplo?

O homem moderno, porém, não possui tempo para pensar em grandes questionamentos e muito menos para ter crises existenciais. Ele nunca é, sempre está! Está ocupado com o trabalho, com a família e com o dia de folga que passará amenamente em frente à televisão.

Além disso, já pensaram tudo por nós. Desde como devemos nos portar até sobre o que temos de consumir. Tudo de que precisamos é estar na moda, ouvir as paradas de sucesso, ler o que lêem e assistir ao que assistem. O “lance” é chegar em casa, assistir à TV, dar “umazinha” e dormir...

A pós-modernidade trouxe um leque enorme de opções para que este homem tenha seus momentos de prazer garantidos pela Industria Cultural. Desde a dona-de-casa que sonha em ir para a Ilha de Caras ao trabalhador urbano que se empolga com um simples jogo de futebol.

Na chamada pós-modernidade há produtos consumíveis para todos os gostos. Há itens para o erudito e para o popular. Porém, a divulgação é ditada pelo mercado, dando prioridade ao que é venal ao maior número possível de pessoas. Para se ter noção, ninguém mais precisa saber cantar, por exemplo. Basta ter dinheiro para pagar o “jabaculê” e para produzir um CD em estúdio, podendo corrigir qualquer imperfeição vocal.

A arte tornou-se mercadoria de consumo e só é levada ao público se for lucrativa. Essa é a pomposa pós-modernidade – independente de ser cópia ou original; de ter conteúdo rico ou pobre.

Adorno e Horkheimer já haviam previsto este desfecho apocalíptico: a perda da identidade cultural em favor da massificação. A chamada “Bolha Ideológica”, de meados do século XX, condicionou-nos a digerir o que nos é oferecido. A antropofagia de Oswald de Andrade ruiu.

Se pensarmos bem, no entanto, bem aventurado aquele que se priva do conhecimento e aliena seu pensamento, pois ele viverá satisfeito e contente com a mediocridade que nos cerca. Como diria Lord Byron, “a dor é conhecimento; aquele que mais sabem, mais devem lamentar pela triste realidade: a Árvore do Conhecimento não é a da Vida”.